sábado, 7 de agosto de 2010

Meu avô

Meu avô, caboclo do sertão, nunca havia freqüentado a escola e não queria que suas filhas estudassem. Mulher tinha era que trabalhar no roçado. Ir à escola só servia para aprender a escrever cartas para os namorados. Ele trabalhava “de meia” nas terras do seu Mané Joaquim, uma pessoa de muito bom coração. Seu Mané era o dono daquelas terras e de parte do Rio Potengi; a ele pertencia o único armazém da redondeza, e era senhorio da casa em que moravam meus avós. Foi muita sorte encontrarem guarida e trabalho naquele lugarejo. Haviam deixado as terras e a casa em que viviam no sertão de Serra Caiada para fugir da seca. A prestação de contas com Seu Mané Joaquim era feita de seis em seis meses, quando terminavam a colheita. Depois de pagar a conta do armazém e o aluguel com parte do que lhe cabia na meação da safra, não sobrava muita coisa para a venda na feira. E o que vendia, quase sempre, gastava tudo na cidade com jogos e bebidas. Sempre que meu avô viajava minha mãe ia à escola às escondidas. Foi assim que aprendeu o abecedário e a assinar o próprio nome.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Tio Armando e o burrinho

Quando meu tio Armando ganhou aquele burrinho, ele me levou para passear no animal. Meu tio tentou me ensinar como se faz o nó de cabresto. Como era muito difícil não me interessei muito. Então, Tio Armando improvisou o cabresto e a fucinheira com um pedaço de corda de fibra de sisal, que não sei bem direito por que chamávamos aquela fibra de algarve. Subimos e descemos a avenida dezesseis. Eu montado no animal e ele puxando o bicho pelo cabresto, pois eu não tinha força suficiente para dominá-lo, embora fosse ele bem mansinho. O burrinho tinha o pelo acinzentado e uma listra escura bem no meio das costas. Meu tio dizia que aquele era um animal sagrado. Afirmava que quando José e Maria estiveram a procurar abrigo para o menino Jesus, eles o transportaram num burrinho daqueles, e que o menino Jesus teria feito xixi nas costas do burro. A partir daí todos os outros burrinhos do mundo nasceram com aquele sinal.

Tio Armando

Meu tio Armando era criança junto comigo, mas tinha um pouco mais de experiência. Era mais velho que eu dois anos. Eu vivia muito preso aos sete anos de idade. Minha mãe tinha o maior cuidado para que eu não saísse de casa. Mas quando Tio Armando chegava lá eu ganhava um pouco de liberdade e podia brincar com ele na rua. Ah, como eu adorava! Naquela época quase não existia trânsito. A rua não tinha pavimentação. A gente gostava de brincar naquela terra de duna, uma areia fininha, sem poeira, à sombra das mangueiras do sítio de seu Benjamim, que ficava em frente à nossa casa na Rua São Pedro, 40. Mas era preciso ter cuidado com duas coisas: a primeira era o carro doido; A segunda era o zumbi de cavalo. “-Brinquem, mas tenham muito cuidado. Não fiquem no meio da rua porque pode vir um carro doido e machucá-los”. Dizia minha mãe. Tio Armando completava: “Pode deixar Neném (era assim que ele a chamava), vamos voltar logo, porque o zumbi de cavalo aparece sempre às cinco da tarde, quando começa a escurecer”. E lá íamos nós, correndo descalço, nos juntar aos outros meninos para brincar de bandeirinha, tica, garrafão e sete pecados.

Tia Júlia

Uma vez Tia Júlia começou a escavar perto de uma coivara e, de repente, percebeu um movimento estranho. Curiosa, aproximou-se para ver do que se tratava. Naquele local, em preparo da terra para o novo plantio, haviam queimado, no dia anterior, o que sobrou da plantação e que não tinha mais utilidade. De súbito sentiu uma forte fisgada na perna esquerda. Os olhos escureceram e começou a suar frio.
- Cacaína, me acode! Gritou ela chamando minha mãe pelo apelido que usava desde pequeninha, quando ainda não concatenava direito as sílabas de Domerina, nome de minha mãe.
Quando minha mãe se virou viu uma cobra de cerca de setenta centímetros de comprimento, somente com a ponta do rabo no chão, girando em torno de si, e mostrando a língua em forma da letra “y “. Dizia que esta era a posição daquele tipo de animal dar o bote. Mas havia outra posição em que ela ficava, em forma de rodilha, com a cabeça erguida uns dez centímetros acima do corpo num certo movimento de vigilância. Era aterrador!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Minha inspiração

Quando eu era criança adorava ouvir histórias. Histórias da minha mãe, histórias do meu pai e histórias dos meus avós. Hoje, quando conto as mesmas histórias à minha filha ela também adora. Nelas também se incluem as minhas. E já que em casa elas têm um significado especial resolvi compartilhar com quem mais goste de ouvir ou ler histórias. Com isso acho que estou doando um pouco de mim. E, certamente recebendo um pouco de todos que leiam, comentem, queiram ver o final, gostando ou não.
Beijos no coração de todos.